Ao utilizar a Tribuna do Senado Federal nesta segunda-feira, 21, o senador Confúcio Moura (MDB-RO) enfatizou a importância da formação política no Brasil e que já é hora de derrubarmos o mito de “quem falou não gosta de política é governador por quem gosta”. Na sua avaliação, talvez a chamada política partidária seja o viés mais evitado pela população. “E os partidos têm culpa, se isso for real. Pouco fazemos para fugir deste estigma, existem poucas atividades de formação política”, afirmou.
Confúcio Moura enfatizou que em muitos países do mundo existem recursos equivalentes ao nosso fundo partidário, mas que esse dinheiro, como no Brasil, vai somente para partidos que têm voto. Segundo ele, as agremiações partidárias que têm voto acima de 5% recebem um percentual do fundo partidário baseado na votação do seu partido.
O parlamentar enfatizou que os partidos na Alemanha e de outros países recebem recursos públicos, no entanto, primeiro, uma parte desse recurso público é para a formação escolar, para a formação de líderes políticos, para preparar as lideranças dentro da doutrina de cada partido. “Cada partido tem que ter um estatuto, um estatuto partidário, o qual todos os seus filiados devem conhecer”, disse Confúcio Moura.
O senador questionou a finalidade de um partido político, que não seja para arregimentar simpatizantes, formar lideranças futuras, apresentar candidaturas e eleger os seus membros. Ele lembrou que o Brasil já teve mais de 30 partidos. “Com a proibição das coligações proporcionais, reduziu bastante, cerca de uns dez foram para as fusões partidárias. Mas ainda é muito. Acima de 20 partidos é muito”, assegurou.
Para o senador, poucos partidos no Brasil têm formulada proposta de governo universal, democrática. “Esses recursos do fundo partidário servem também para a formação e preparação de lideranças, quadro partidários, com vínculos ideológicos. A palavra ideologia não é criminosa, como querem alguns. No entanto, o Brasil ainda não está nesse nível, estamos engatinhando quando o assunto é consistência partidária”, afirmou.
Encontro do MDB
O senador rondoniense ressaltou que na semana passada participou, em São Paulo, de uma reunião com as principais lideranças do seu partido, o MDB, inclusive com a presença do ex-Presidente Michel Temer, e que todos abordaram sugestões para o fortalecimento da legenda. “Nós somos o maior partido brasileiro em número de prefeitos eleitos, vereadores e deputados Estaduais. Aqui, no Senado, já fomos até, no ano passado, o maior. Na Câmara, somos o quarto ou o quinto. Em resumo: Nós somos o maior partido do Brasil”, disse.
A expressividade do MDB, se justifica por ser um dos partidos mais antigos do Brasil. “Somos um partido de resistência. O MDB, na época da ditadura, era a única voz. A única voz a gritar contra, a fazer oposição! Trabalhamos na dureza. Ulysses Guimarães, em certa ocasião, lá em Salvador, estava lá fazendo um discurso de rua e puseram um cachorro atrás dele. O homem teve que saltar um alambrado para não ser mordido pelo cachorro”, lembrou.
O senador disse que a liderança de Ulysses Guimarães ajudou a construir e aprovar a Constituição. “Ele foi brilhante, foi fantástico, é um nome consagrado! Quem é que não tem uma reverência pela personalidade, pelo trabalho duro, sofrido do nosso pessoal do MDB antigo? Isso são águas passadas que realmente fazem de nós todos, hoje, orgulhosos. Daqui há alguns anos, quem de nós será o Ulysses de agora?”, questionou.
Mulheres na política
Confúcio Moura disse que durante o encontro do MDB em São Paulo foi discutido a modernização do partido, abrir as portas para as mulheres brasileiras e para a juventude. “Tem uma meninada aí batendo às portas da política, querendo entrar e, às vezes, o velho está lá na frente, segurando, não deixa entrar, travando a vida da juventude. Não há mais espaço para feudos partidários, isso não é democracia. Temos que abrir as portas do partido para os jovens e para as mulheres”, falou.
O parlamentar lembrou ainda que o MDB deseja a participação de no mínimo 30% de mulheres nos diretórios e nas disputas eleitorais. “Eu apresentei um projeto, no qual coloquei o seguinte, é meio a meio – é meio a meio! Se tem 81 Senadores, metade tem que ser mulher e metade homem. Por que não? É como se fosse uma lei de cotas. A mulher é maioria no eleitorado brasileiro, então, ela tem espaço para participar da política. Neste caso, ou radicalizamos derrubando barreiras, ou levaremos mais 100 anos para igualarmos a participação entre homens e mulheres na política brasileira”, advertiu.
O MDB e as transições
Confúcio Moura falou que o Brasil quando precisou do MDB, o partido se fez presente. “Quem é que enfrentou a ditadura? Quem é que venceu a turma que estava lá há 21 anos? Foi Tancredo. Ele faleceu, assumiu Sarney, que fez a transição. Você acha que foi fácil fazer a transição da ditadura para a democracia? Foi extremamente penoso para o Presidente Sarney, mas ele, com a sua prudência, liderança, em altos e baixos, em inflações galopantes, desvalorização da moeda, conseguiu passar o governo democráticamente para o seu sucessor”, relembrou o senador.
Quando o Presidente Collor renunciou ao mandato, o Itamar Franco assumiu e implantou o real, com Fernando Henrique, e conteve a inflação. “Foram dois anos apenas, mas dois anos de trabalho duro, inteligente, que melhorou e equilibrou a economia, e passou o Governo. Lá na frente, chegou Michel Temer, que também ocupa o Governo num período turbulento”, lembrou o parlamentar.
Confúcio Moura disse que Temer assumiu a Presidência porque era o vice constitucionalmente eleito. “Nos dois anos do Michel, com todas as dificuldades e baixa aceitação popular, ele conseguiu ajeitar a casa, fez as reformas possíveis, criou o teto de gasto e equilibrou as contas públicas”, disse.
Confúcio Moura chamou a atenção dos partidos brasileiros para que se dediquem à preparação dos jovens para a política. “Não podemos pegar no laço, na rua, candidatos de improviso e falar: ‘Saia candidato! Saia candidato!’. O sujeito não entende nada de gestão pública, o camarada não tem noção, tem que passar por uma preparação; e o partido político é que é responsável pelos seus candidatos, prepará-los adequadamente para o enfrentamento de um país complexo, desigual e pobre – um país que ainda tem muita fome. Nós, aqui no senado, que temos experiencia e formação, sofremos na busca de soluções para os problemas. Imagine se continuarmos a desdenhar da formação política dos nossos quadros”, pontuou.
Ao finalizar, o senador disse que o MDB tem também os seus pecados veniais e pecados mortais, como todos os partidos têm, mas tem uma história consagrada. “Somos um partido independente, somos um partido de centro, podemos atuar entre os dois lados, com moderação e ponderação, sem nenhum problema. Isso não é ausência de ideologia, menos ainda fisiologismo. Isso é uma escolha política, um compromisso partidário de ser o centro político brasileiro. Somos radical de centro, em que o bom senso e o respeito à democracia são valores inegociáveis”, concluiu Confúcio Moura.
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