Uma adolescente que participou de grupos virtuais ligados a crimes e discursos de ódio compartilhou, em entrevista ao programa Profissão Repórter, o trauma vivido após conhecer um aliciador dentro de um jogo online. A jovem, que preferiu não mostrar o rosto, contou que o aliciamento teve início quando ela ainda era criança, por meio do jogo Roblox, plataforma digital com milhões de usuários diários.

“Eu me sentia sozinha, não tinha vida social. Esses grupos me faziam sentir aceita. Conheci um garoto no Roblox”, disse ela, revelando que os primeiros contatos aconteceram dentro de jogos voltados ao público infantil. Com o tempo, a relação entre os dois evoluiu — e, mesmo sendo bem mais velho (com cerca de 17 ou 18 anos, segundo ela), ele conseguiu manipular emocionalmente a menina.

A partir daí, a adolescente passou a ser forçada a realizar desafios autodestrutivos e perigosos, incluindo se queimar com vela quente, ingerir misturas perigosas e se cortar. Em momentos de resistência, ela era ameaçada. “Diziam que iam prejudicar minha família, expor vídeos, tirar nossa renda. Eu ficava com medo. É como uma mulher que sofre violência doméstica e teme denunciar”,desabafou.

O rompimento com o grupo ocorreu após a jovem refletir sobre as possíveis consequências. “Percebi que tudo o que está na internet permanece ali para sempre. Eu não queria mais sofrer e acabar tirando minha vida”, afirmou.

Riscos nos jogos e o alerta das autoridades

A situação levanta um alerta sobre o uso criminoso de plataformas digitais como o Roblox para cooptar menores de idade. O delegado da Polícia Federal, Flávio Rolim, destacou que criminosos costumam criar perfis falsos se passando por crianças ou adolescentes, para se aproximar das vítimas.

“Quando há ofertas suspeitas, como moedas ou itens do jogo, isso já deve acionar um alerta para os usuários e os pais”, pontuou.

Em resposta, o Roblox afirmou que investe continuamente em segurança e que nos últimos 12 meses lançou mais de 40 melhorias, como filtros no bate-papo, monitoramento em tempo real e restrições para menores de 13 anos, que exigem autorização dos responsáveis para acessar certos recursos.

A história da adolescente expõe a vulnerabilidade de crianças e jovens em ambientes virtuais e reforça a necessidade de supervisão ativa dos pais e responsáveis, além de políticas públicas que enfrentem esses crimes com mais rigor.